Como você se sentiria sabendo que pode começar a introdução alimentar do seu bebê tendo certeza que está fazendo o melhor para ele? E ainda ter um bebê que come com prazer? Garantindo o desenvolvimento e crescimento, ao mesmo tempo que faz isso de forma segura, diminuindo riscos de alergias e seletividade alimentar.
Sem ter aquelas dúvidas inquietantes se está fazendo realmente a coisa certa, se os alimentos estão sendo apresentados (apresentados, guarde essa palavra!) na forma e textura corretas, se aquele tipo de alimento está certo para aquela idade.
Eu sou nutricionista, tenho duas filhas. Mas não pense que o momento da introdução alimentar foi fácil pra mim.
A primeira certamente não foi das melhores e eu vou contar a história pra você.
O que eu vou apresentar aqui neste artigo é a forma que eu encontrei, após muito ler sobre este assunto e botar em prática com minhas próprias filhas, de promover uma introdução alimentar centrada no desenvolvimento do bebê e com muito mais leveza para a mãe.
Sugiro que leia em sequência, mas se preferir use os links abaixo para navegar pelo artigo (não abrirá novas páginas).
O estalo: a história de como eu mudei completamente a introdução alimentar da primeira pra segunda filha.
Em 2012 recebi a notícia de que seria mãe.
Nem preciso te falar do turbilhão de coisas que passaram na minha cabeça, depois de um tempo vieram as alterações de humor e aquela coisa toda que quase toda grávida passa, em maior ou menor intensidade. Com certeza você se lembra exatamente como foi com você.
Apesar de eu ser uma pessoa calma, a ansiedade era muito grande quanto mais próxima da data de nascimento da minha primeira filhinha.
Eu queria tudo perfeitinho: parto normal, quarto decorado, que ela nascesse saudável, fosse um bebê calmo, conseguisse amamentar, tivesse um bom sono e que se alimentasse bem quando iniciasse a introdução alimentar.
A vida é a vida, não temos tanto controle sobre ela.
O parto não foi normal, o quarto ficou pela metade. Mas o mais importante, ela nasceu totalmente saudável, logo conseguimos sucesso com a amamentação e dormia bem após os 3 meses.
Quando ela tinha 5 meses, voltei a trabalhar, nessa época eu era nutricionista responsável pela alimentação dos trabalhadores de grandes indústrias aqui da região (ainda nem pensava em trabalhar com bebês e crianças). Eu fazia aquela rotina estressante de sair do trabalho correndo pra dar o mama, e ainda ordenhava para ela se alimentar durante o dia.
Logo chegou o momento da introdução alimentar. O que eu sabia na época era: iniciar aos 6 meses (com isso eu não cometi o erro #1). Além disso, sabia o que toda nutricionista sabe sobre as necessidades de nutrientes.
Tinha muitas dúvidas, mas não conhecia nenhuma nutricionista materno-infantil aqui na minha cidade para me instruir e a internet não tinha tantas informações valiosas como hoje. Isso explica muito o motivo de eu estar escrevendo esse guia para você: se eu tivesse essas informações em 2012, tudo teria sido diferente. É essa a diferença que quero fazer na sua vida e do seu bebê.
Eu não entendia muito bem porque a Ísis (acho que ainda não tinha contado o nome dela) não aceitava comer, às vezes. Eu chegava a pensar que ela não gostava da minha comida, chegava até a dar uma forçadinha para ela dar 2 ou 3 colheradas a mais de vez em quando (saiba mais sobre isso no erro #4).
A comidinha era uma papa misturada (no erro #2 você entende porque isso é errado), pelo menos eu sabia que eu deveria variar nos grupos alimentares (não cometendo assim o erro #3). Quando ela completou um ano, eu tinha a impressão que ela comia muito pouco (erro #4 de novo), apesar de as professoras da escolinha dizerem que ela comia bem por lá.
Fique tranquila, eu vou explicar todos esses erros na próxima seção, para que você os entenda e não os cometa.
Minha vida passou por diversos problemas no período seguinte, de 2013 a 2016. Doença e falecimento da minha mãe e do meu avô, duas pessoas que eu amava muito e tinha uma ligação muito especial. Tive que deixar o trabalho para cuidar deles e, depois disso, precisei me reinventar profissionalmente. Eu precisava resolver a frustração de ser nutricionista e ter uma criança que ao meu ver não se alimentava muito bem e então passei a focar minha carreira na nutrição de crianças e bebês.
Em 2018 engravidei novamente. Dessa vez queria fazer muita coisa diferente e uma delas era a introdução alimentar. Queria começar do jeito mais certo e atualizado. Estudei exaustivamente sobre o tema e parti para uma abordagem muito diferente dessa vez, aprendi sobre a importância do comportamento dos pais; o que acontece em cada fase; sobre como estimular a curiosidade do bebê e que a introdução alimentar era um grande motor de desenvolvimento.
Me senti muito mais segura e a introdução alimentar foi um sucesso, ela acabou de completar 2 anos e come de tudo, mais do que isso, ela sente prazer em se alimentar. Grave essa mensagem: “Quando não há prazer em se alimentar, a nutrição sofre.”
Na sequência desse artigo, conforme prometido anteriormente, vou te explicar os 4 erros principais que a maioria das pessoas cometem na introdução alimentar e em seguida te apresento os pilares para o sucesso na alimentação do bebê.
Por último, você vai ter um passo-a-passo de como começar, vou te contar tudo que você precisa fazer. Tenho certeza que vai se sentir pronta para esse momento tão complexo, cheio de mitos e palpites (dica nº1, fuja dos palpiteiros!).
Já atendi várias mães e pais no período da Introdução Alimentar e ajudo muitas pelas minhas redes sociais. Tudo isso que você vai ver aqui é o que já ensinei a muitas de mães, seja pelo meu Instagram ou por consultas individuais, e elas tem me reportado diariamente resultados que me deixam muito feliz. Aproveite!
Os 4 erros mais comuns na alimentação de bebês.
Erro #1: Começar a introdução alimentar antes dos 6 meses e dos sinais de prontidão.
Você pode estar lendo isso e pensando:
“Ah isso não serve pra mim. Eu volto a trabalhar antes do meu bebê fazer 6 meses”.
Ou
“ Ah, mas o pediatra falou que era pra começar com 4 ou 5 meses e eu já comecei”.
Aqui está a verdade. Independente de quando você volta a trabalhar, o aleitamento materno deve ser continuado exclusivamente até os 6 meses completos do bebê, ou seja, sem nenhum outro alimento e bebida incluída, ou pra quem não conseguiu amamentar por algum motivo, fazer o uso da fórmula infantil que é o que mais se “assemelha” ao leite materno em relação a nutrientes para o crescimento e desenvolvimento do bebê.
O leite materno proporciona todos os nutrientes necessários para essa fase do desenvolvimento, além de possuir anticorpos e outras substâncias que protegem o bebê de infecções como diarréias, infecções respiratórias, diminui o risco de desenvolver alergias e quando o bebê adoece se recupera mais rapidamente enquanto está sendo amamentado.
Logo, a amamentação é muito importante para o desenvolvimento infantil e estabelecimento desse laço afetivo que vai ser de extrema relevância para a introdução dos alimentos, que você vai entender mais a frente neste artigo.
Também é a partir dessa idade que a maioria dos bebês atinge um estágio de desenvolvimento geral e neurológico (mastigação, deglutição, digestão e excreção) que a habilita a receber outros alimentos que não o leite materno.
O profissional que indica uma introdução de alimentos antes dos 6 meses em bebês saudáveis está desatualizado, pois essa recomendação é de 2001 da Organização Mundial da Saúde. Em 2002 foi lançado o primeiro Guia alimentar para menores de 2 anos do Ministério da Saúde que já continha essa recomendação. Nos dias atuais mais estudos vêm provando a importância e os benefícios a longo prazo do bebê que recebe aleitamento materno exclusivo até os 6 meses, e a amamentação continuada até os 2 anos de vida ajuda a prevenir algumas doenças como diabetes, hipertensão e obesidade.
Os sinais de prontidão
Para um bebê estar pronto para receber alimentos existem alguns sinais que demonstram essa maturidade:
- Sentar-se sem ou com o mínimo de apoio;
- Levar objetos à boca, como brinquedos e mordedores;
- Mostrar interesse pelos alimentos observando adultos comerem;
- Não apresentar sinais de protrusão de língua (empurra para fora os alimentos com a língua);
- Ter controle de cabeça e pescoço
Perceba no vídeo acima, da minha paciente Maria Julia, como ela já apresentava todos os sinais que descrevi.
Esses são os sinais que visualmente conseguimos identificar, porém mesmo que seu bebê apresente esses sinais antes, é preciso esperar os 6 meses. Pois, existe um sinal que não visualizamos que se referem a maturidade gastrointestinal, onde o organismo do bebê está pronto para absorver, metabolizar e excretar adequadamente os alimentos somente após o sexto mês de vida.
Então para começar você deve esperar os 6 meses de vida mais os sinais de prontidão!
Quando eu ofertei o primeiro alimento a minha segunda filha, a Luna, tinha segurança e certeza do que estava fazendo e que ter esperado por todos os sinais era a melhor escolha, e o próximo passo era proporcionar uma alimentação respeitosa, nada comparado a introdução alimentar tradicional.
Erro #2: Peneirar, liquidificar e/ou misturar a comida do bebê
Antigamente existia essa recomendação, de deixar a comida do bebê bem triturada e fazer tipo uma sopa com tudo junto e misturado. E isso se foi, graças a novos estudos sobre alimentação materno-infantil. Não devemos ignorar isso, pois podemos criar problemas com uma introdução de alimentos feita de maneira errada; como seletividades severas e obesidade futuramente.
Este erro já está descrito nos maiores órgãos de saúde do Brasil, no Guia Alimentar para menores de 2 anos do Ministério da Saúde e no Manual de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. Veja!
Veja mais consequências já provadas sobre peneirar e liquidificar e ou/ misturar a comida do bebê:
- Não estimula a mastigação e a erupção dentária, pois a consistência fica totalmente mole;
- Não estimula a fala para posteriormente;
- Perde cor, sabor, aromas, textura e fibras dos alimentos;
- O bebê não aprende a reconhecer a diferença entre os alimentos;
- Aumenta o risco de engasgo;
- Minimiza a aceitação dos alimentos, principalmente futuramente;
- Atrapalha no desenvolvimento da face e dos ossos da cabeça.
Você consegue imaginar quantos bebês foram alimentados dessa forma?
Nós fomos alimentados assim! Essa é a referência pra muita gente, para os nossos pais, avós e amigos, pois eram as informações que as pessoas tinham, mas agora você pode fazer diferente para o seu filho!
Se você pensou em começar assim, pois alguém lhe recomendou que o bebê não consegue comer se não for com papinhas trituradas. Veja mais essa!
O bebê não precisa ter dentes para começar a se alimentar de sólidos e semi-sólidos, desde que estejam na consistência correta (macia). A gengiva do bebê é dura o suficiente para morder os alimentos cozidos no ponto certo.
Aqui está o que realmente importa:
- Você saber que essa não é a maneira mais adequada de oferecer a comidinha;
- Você querer que seu filho não tenha prejuízos com o desenvolvimento dele;
- Você saber que se fizer do jeito certo estará proporcionando mais saúde para o seu bebê.
De novo, pra você não ter dúvidas: Misturar a comida, liquidificar ou peneirar vai atrapalhar o melhor desenvolvimento e crescimento para o seu filho.
Para oferecer os alimentos na consistência ideal, sendo oferecidos na colher amassados você precisa saber o ponto de cozimento dos alimentos:
- Para as comidinhas oferecidas na colher apenas amasse grosseiramente com o garfo após o cozimento;
- Amassar os alimentos separadamente no prato do bebê para que ele possa identificar cada cor, sabor, aroma e textura;
- Oferecer alguns alimentos em pedaços para o bebê pegar e explorar com as mãozinhas, desde os 6 meses para adquirir experiências alimentares individualmente criando uma relação de verdade com a comida, facilitará a aceitação futuramente por alimentos saudáveis e nutritivos.
Vou falar mais sobre esses pontos mais a frente. Por enquanto eu quero eliminar as suas objeções, lembrando-a que você pode proporcionar uma introdução alimentar seguindo as diretrizes mais atualizadas e eficazes para seu filho.
O primeiro passo para isso acontecer é você tirar a ideia da cabeça de que comida de bebê é uma comida insossa, rala e de uma cor só, tendo em mente que seu bebê precisa, desde o início, de uma comida que:
- Traga experiências sensoriais;
- Comida com densidade energética ideal e oferta calórica necessária;
- Estimule a mastigação e desenvolva habilidades motoras e cognitivas;
- Minimize problemas futuros com a alimentação;
- Deixe-o feliz por poder participar ativamente do ambiente de refeição, favorecendo a aceitação e prazer em comer desde o início;
Além disso, ele precisa de uma mãe que confia no processo e que não precisa da aprovação de ninguém pra fazer a coisa certa,
Você, simplesmente, declara-se atualizada e começa do jeito certo
Erro #3: Oferecer apenas frutas e legumes
Esse erro é bem comum no início da Introdução alimentar e ainda é muito indicado por profissionais desatualizados.
Isso torna a alimentação do bebê monótona, rala, com pouca energia e com deficiência de nutrientes essenciais ao desenvolvimento e crescimento do bebê.
Veja esse trecho sobre as melhores práticas para a alimentação adequada e saudável desde os 6 meses do Guia Alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos do Ministério da Saúde:
“ A diversidade da alimentação ajuda na construção de uma alimentação adequada e saudável, com a oferta de diferentes nutrientes, e contribui para a prevenção de deficiências nutricionais, como a anemia e a deficiência de vitamina A. Para garantir a variedade necessária de nutrientes para a criança, sempre que possível, monte o prato dela combinando um alimento de cada grupo: feijões; raízes ou tubérculos ou cereais; carnes ou ovos; legumes e verduras. No caso de legumes e verduras, quando possível, pode-se colocar mais de um alimento deste grupo. Se esses alimentos estiverem presentes na refeição da família, fica mais fácil arrumar o prato da criança.”
Por isso você não deve oferecer apenas frutas e legumes.
Porque destaquei essa última frase!? Para você pode ser novidade pensar que o bebê possa fazer parte da mesma refeição que nós, adultos. Isso é possível quando a alimentação da família é variada e a base de alimentos naturais. Feita de comida de verdade.
Além disso, na minha prática, tenho acompanhado mães se queixando que seus bebês que se alimentavam apenas de frutas e legumes nas primeiras 2 semanas, estavam tendo dificuldades em aceitar os outros grupos alimentares.
Quero que fique claro para você, pois é provável que ninguém tenha te dito isso antes: o bebê precisa de uma alimentação completa desde o início. E as frutas nos lanches da manhã e da tarde.
Por isso reforço aqui pra você que a apresentação da variedade dos grupos alimentares irá beneficiar a nutrição, o crescimento e desenvolvimento do seu bebê. Além de prevenir problemas na aceitação de novos alimentos, cientificamente chamado de neofobia alimentar.
Erro #4: Querer que o bebê raspe o prato
Essa prática está muito enraizada na nossa sociedade, pois tem haver com o medo, que por detrás deste medo está: a criança não crescer, desenvolver e ficar magra ou desnutrida.
Essa relação, vinda de muitas décadas atrás existe por conta de épocas de escassez, onde muitas famílias não tinham o que comer ou comiam muito pouco porque as famílias eram grandes e tinha que ser bem dividido as refeições para dar pra todos.
Por outro lado, ter um bebê gordo era sinal de fartura e saúde.
E ainda temos muito desse conceito, ligado ao peso do bebê e das crianças na nossa cultura.
Você pode acabar insistindo que o bebê coma tudo que está no prato, sem perceber, sem parar para pensar que se alimentar é um ato extremamente individual e privativo.
Precisamos mudar esse cenário, que aliás trouxe muitas complicações na saúde da população e que somados a outros hábitos e comportamentos inadequados de vida favorecem o desenvolvimento de doenças crônicas como diabetes tipo 2, hipertensão e obesidade, que hoje chegam a mais de 27% dos brasileiros.
Se você deseja melhorar e colaborar com a saúde do seu bebê, não faça nenhum tipo de chantagem emocional ou forçe por meio de palavras ou atitudes para que ele raspe o prato.
Imagine você que alguém sempre prepara o seu prato de comida e te diz: tem que comer tudo viu? Sem se importar com o tamanho da sua fome.
Outro equívoco é a ideia de que quando o bebê inicia a alimentação, vai passar a mamar menos. Mas não é bem assim que acontece, o leite materno continua sendo a principal fonte de alimentação do bebê no primeiro ano de vida..
Veja o gráfico abaixo:
Até os 11 meses de idade, o leite continua sendo a principal fonte energética do bebê. Apenas a partir do 12º mês é que o leite se torna a fonte secundária.
Você analisou o gráfico?
Observe que a ingestão de comida é muito pequena no começo.
E na prática o que acontece? No início, alguns bebês comem pouco, outros não comem nada, pois estranham a comida, e outros comem desde as primeiras ofertas de alimentos.
Isso acontece porque cada bebê tem seu tempo de se identificar com os alimentos, com a textura, com a temperatura, com o cheiro e com o sabor.
Se você parar para pensar, o bebê ficou recebendo a mesma consistência alimentar por 6 meses, o leite. Então, é tudo muito novo pra ele; desde o talher, o ambiente de refeição, o cadeirão, a temperatura do alimento, a posição de se alimentar, que agora é sentado, suas expectativas…; sim, as suas expectativas também pesam para o bebê.
Já passei por isso e sei o quanto esse momento da introdução alimentar é de ansiedade.
Mas vamos refletir sobre o que eu te disse até aqui, sobre o bebê precisar de um tempo para entender toda essa novidade, que pode levar dias ou semanas. E com toda essa questão, eu posso te afirmar, fique tranquila pois o leite materno segue sendo a principal fonte alimentar. Essa informação é muito preciosa. Ela pode te acalmar e te fazer entender que se o seu filho ainda não “engrenou” na alimentação, o leite é a base, ele fornecerá muito do que o bebê precisa para crescer e se desenvolver até o 1º ano de vida!
E se nos frustramos e nos desesperamos podemos passar essas emoções para o bebê e aí sim tudo não tomar o caminho que deveria.
Agora saiba os prejuízos de querer que o seu bebê raspe o prato:
> Atrapalha o mecanismo de autorregulação energética (sinais internos de fome e saciedade que nascemos com esse mecanismo pronto), fazendo com que ele perca essa percepção interna, que muitos de nós adultos perdemos ainda na infância, por situações vividas como essa, de ter que comer tudo que colocaram no nosso prato;
> Relação negativa com a comida e com a hora do comer, ou seja, o bebê associa esse momento de refeição como algo nada prazeroso, onde ele precisa responder às suas expectativas e não a vontade dele em comer e poder parar de comer quando estiver satisfeito;
> Desenvolver um grau de seletividade alimentar severa posteriormente;
> Desregular a fome e a saciedade, podendo levar a distúrbios de peso durante a infância e até por toda a vida.
Você consegue perceber que raspar o prato é um desejo da mãe e não do bebê?
Se você deseja melhorar e colaborar com a saúde do seu bebê, não faça nenhum tipo de chantagem emocional ou force por meio de palavras ou atitudes para que ele raspe o prato.
Se você fizer isso – deixar seu filho se guiar sobre seus sinais de fome e saciedade, você estará contribuindo para a promoção da saúde dele. (falarei melhor sobre quais são esses sinais mais a frente).
Essa é uma das chaves para obter uma introdução alimentar respeitosa e minimizar problemas futuros com a alimentação.
O que você precisa entender para começar: os 6 pilares da introdução alimentar
Pilar #1: Despertando interesse pelos alimentos
Você deve ter notado que o seu bebê de 5 meses já leva os brinquedos à boca, ri quando você dá risada, chora e fica irritado se você ficar irritada e já apresenta mais interesse pelos objetos à sua volta. Os estímulos que nós adultos proporcionamos aos bebês faz com que eles aprendam cada vez mais, e a curiosidade vai ficando mais aguçada.
Dessa forma, interagir com o seu bebê nos momentos de refeição é essencial. Você comendo junto com seu bebê e não apenas dando de comer. Veja, ele precisa ver você comendo para gerar esse interesse.
Demonstrando de um jeito natural que os alimentos são gostosos, ter um ambiente tranquilo e sem altas expectativas faz toda a diferença. Variar os grupos alimentares também é crucial para manter o interesse, pois os bebês tem muitos estímulos visuais e manter uma alimentação colorida chama a atenção e desperta a curiosidade.
É preciso também variar o modo de preparo dos alimentos; exemplo, a batata: batata assada com ervas, batata cozida com carne, purê de batatas.
Pilar #2: Os degraus da introdução alimentar
O início da Introdução Alimentar deve ser de momentos tranquilos, de leveza e com baixas, ou até zero expectativas que o bebê coma. O fato do seu filho estar pronto para começar a comer, com 6 meses mais os sinais de prontidão, não significa que ele de fato vai comer no primeiro dia, ou nos primeiros dias.
Se ele comer, ótimo também, mas saiba que isto não tem grande importância. Como já disse, cada bebê tem seu tempo para assimilar a comida e todas as novidades do ambiente de refeição.
E aqui eu quero te passar uma abordagem de alimentação que prezo como uma introdução alimentar de respeito. Nessa abordagem deixamos o bebê participar ativamente das refeições, trabalhando o desenvolvimento motor e cognitivo através da alimentação.
Certo! E para que consigamos ajudar o bebê a assimilar, se alimentar e se interessar pelos alimentos é preciso entender os 4 degraus da Introdução Alimentar:
- 1º degrau: Aceitar ficar no cadeirão e “tolerar” o alimento à sua frente;
- 2º degrau: Interagir com a mãe ou com o cuidador, assimilando e observando que o ambiente é seguro;
- 3º degrau: Cheirar o alimento e as vezes tocar, podendo segurar e amassar pra ver como é;
- 4º degrau: Levar até a boca e provar, podendo cuspir ou comer.
Essa etapa é muito importante você saber para entender um pouco mais sobre os comportamentos e as habilidades de alimentação desde o início.
Tem bebês que atingem esses quatro degraus nos primeiros dias e outros podem demorar mais. Podem estranhar a textura ao pegar na mão ou simplesmente não se interessar em levar até a boca.
Enquanto isso, você pode gentilmente oferecer os alimentos amassadinhos na colher se quiser. O que quero dizer com gentilmente é: esperar o bebê abrir a boca quando você aproxima a colher.
E gentilmente, você para de oferecer quando ele não abre mais a boca, ou começa a demonstrar outros sinais de saciedade (vira o rosto, fica irritado, chora ou empurra a colher do cuidador).
Mesmo o bebê ainda não interessado em pegar os alimentos com as mãozinhas, você pode, sempre que for alimentá-lo, deixar um alimento em pedaço grande à disposição para que ele veja que está ali, caso ele se interesse em pegar uma hora dessas (um brócolis, por exemplo).
Proporcionar oportunidades de aprendizado durante as refeições para o seu filho despertará curiosidades para os alimentos. Falo isso com toda segurança como mãe de segunda viagem e profissional da área. Seu filho sentirá que pode fazer parte de tudo e aprenderá muito nesse universo da alimentação junto com você.
E quando ele não aceita nenhuma colherada, é porque ele não quer naquele momento e o melhor a fazer é não insistir e esperar para oferecer mais tarde, ou se o bebê estiver irritado, dê de mamar, ele pode estar com fome ou com sono (você vai entender isso no próximo pilar).
Pilar #3: Bebês com fome ou sono não comem
Anote! Muito importante isso!
Com muita fome, passado de 2 a 3 horas sem mamar, ou, com sono não vai querer comer! Comer dá mais trabalho e os bebês não entendem ainda que a comida também mata a fome tanto quanto o leite; e isso pode levar um tempinho até eles assimilarem.
Com fome ou sono eles não tem paciência para nada, querem logo o que conhecem de mundo, o mama e um colinho para cochilar. Eles também cansam facilmente no início após uma refeição principal, por isso também é bem comum quererem mamar logo após a refeição.
Pilar #4: Respeitar sinais de fome e saciedade
Reconhecer e respeitar esses sinais desde cedo está entre os principais pilares para se conseguir uma introdução alimentar que respeita o seu bebê, atingindo assim uma harmonia nessa fase tão especial ajudando-o a manter essa capacidade.
O bebê desde o nascimento possui um mecanismo de auto-regulação de ingestão diária de energia muito eficiente. O corpo é muito sábio nesse sentido e muitos estudos indicam que podemos confiar nessa capacidade do bebê se auto-regular. Isso quer dizer que o bebê ingere a quantidade de comida que precisa, assim como mama ao seio o quanto precisa, largando o mamilo ou a mamadeira assim que se sente satisfeito.
Observe que o bebê passa mais tempo ao seio em algumas mamadas e menos tempo em outras. Para os que usam fórmula, é a mesma coisa, eles não ingerem a mesma quantidade todas as vezes.
Geralmente ele chora, resmunga ou procura pela mãe quando sente fome, não será diferente com a alimentação. A quantidade que seu filho vai comer sempre vai variar, algumas vezes mais, outras menos.
O que acaba acontecendo é que essa auto-regulação energética pode ser prejudicada por influência do cuidador ou do ambiente que o cerca.
Mesmo não querendo influenciar nisso, acabamos tendo atitudes nocivas.
Veja se reconhece algumas dessas frases, ditas por alguém próximo ou que você mesma já tenha dito:
“Filho, fiz com tanto carinho a comida e você não quer comer?!”
(Sim, o bebê deve e precisa ter o poder de decisão de não comer se não estiver com fome.)
“Só mais uma colherzinha, está quase acabando!”
(Ele não precisa e não deve comer tudo, se tivesse que comer tudo sempre, não estaria respondendo aos sinais do seu próprio corpo.)
“Vou ficar tão triste se você não comer”
(Ninguém come pra outro ficar feliz e sim porque tem fome.)
“Olha o aviãozinho”
(Estratégia articulada para fazer o bebê comer, sem que ele queira de verdade.)
“Se comer tudo, vai ganhar sobremesa!”
(Condições ou recompensas que confundem o bebê para comer para fazer ou receber algo em troca.)
E também outras atitudes como:
- Utilizar desenhos em televisão, tablets e celular para que a criança coma;
- Esconder alimentos que a criança não gosta em preparações;
- Querer alimentar a criança correndo atrás dela com o prato na mão;
Todas essas atitudes e distrações podem atrapalhar a percepção do bebê/criança sobre seus próprios sinais de fome e saciedade e trazer problemas como desajustes no apetite, podendo contribuir tanto para obesidade como no baixo peso futuramente.
Também pode interferir no desinteresse pelos alimentos saudáveis quando esses são “forçados” de alguma forma.
Sabendo disso você pode confiar na capacidade nata do seu filho e promover um ambiente adequado para que ele se auto-regule a quantidade que quiser comer.
Agora saiba quais são esses sinais na Introdução Alimentar.
Sinais de fome:
- Chora;
- Se inclina pra frente quando a colher está próxima;
- Segura a mão da pessoa que está oferecendo a comida e abre a boca
- Pega os alimentos em pedaços com as maõzinhas todo interessado e leva a boca.
Sinais de saciedade:
- Vira a cabeça ou o corpo;
- Perde interesse na alimentação;
- Empurra a mão da pessoa que está oferecendo a comida;
- Fecha a boca;
- Parece angustiada ou chora;
- Faz movimentos pára-brisas na bandeja do cadeirão.
“Ao perceber estes sinais, a pessoa que cuida da criança deve responder de forma ativa, carinhosa e respeitosa, oferecendo o alimento à criança quando ela demonstra sentir fome e deixando de dar quando ela demonstra que está satisfeita.” (Ministério da Saúde)
O ideal é perguntar a ele se está com fome ou se está satisfeito, desde o momento em que começar a comer. Mesmo que no início ele não entenda muito bem, você vai criando esse hábito e logo o bebê começará a entender e assim ficará mais fácil a compreensão de vocês dois.
Pilar #5: A Divisão de responsabilidades
Você sabia que existe divisão de responsabilidade entre os pais/cuidador e do bebê na hora da refeição?
O papel dos pais consiste em:
- Providenciar e preparar os alimentos adequados;
- Estabelecer uma rotina alimentar, porém sem horários rígidos, tendo flexibilidade frente às necessidades do bebê;
- Onde serão as refeições.
O papel do bebê/criança é:
- Quantidade que vai comer;
- O que vai comer (dentro do que foi oferecido);
- Se vai comer.
Quando se compreende e respeita o papel de cada um, fica mais fácil conduzir toda a situação e manter tudo mais leve.
Pilar #6: Engasgos e Mecanismos de Proteção
Aqui está uma das maiores dúvidas, recebo perguntas quase diariamente sobre isso.
Sim, o engasgo pode ocorrer, tanto com líquidos quanto com papinhas, alimentos inteiros ou alimentos pequenos e duros. O risco de acontecer é o mesmo com qualquer um desses alimentos.
O que ajuda a prevenir? O bebê já deve se sentar sem apoios e ter total controle da situação em pegar o alimento no seu tempo e esse alimento estar macio e em cortes adequados. Porém é fundamental que o bebê nunca fique sozinho ou se distraia com outras atividades, enquanto se alimenta.
O corpo é sábio, nós é que desconfiamos dele! Nosso corpo tem um mecanismo de defesa para prevenir o engasgo, chamado reflexo de gag. Sem conhecimento, você pode até confundir. O reflexo é muito comum, as pessoas acabam até chamando erroneamente de engasgo, mas eu vou te mostrar aqui como você pode distingui-los facilmente.
O reflexo de gag é um movimento parecido com uma ânsia de vômito, que pode durar alguns segundos, acontece quando o bebê morde um pedaço grande do alimento e não consegue lidar com o alimento dentro da boca, assim o cérebro responde fazendo um reflexo anti engasgo. Em seguida ele poderá cuspir o alimento ou simplesmente voltar a mastigar como se nada tivesse acontecido.
Uma coisa para te tranquilizar: esse reflexo é acionado quando o alimento ainda está no meio da língua e não na garganta.
Por isso esse reflexo, quando acionado, é protetor e não perigoso.
Essa situação pode acontecer durante as primeiras semanas da introdução alimentar e o mais importante é não se desesperar. Você não precisa fazer nada, aliás, você não deve fazer nada, apenas observar a reação do bebê e se certificar que não é um engasgo real. Acredite, seu bebê vai resolver isso sozinho.
No vídeo abaixo, veja na prática como aconteceu com a minha filha, Luna.
Já o engasgo é coisa séria!
E eu como mãe, além de profissional, entendo perfeitamente sua preocupação, pois estamos falando do seu filho. Mas é importante você saber que engasgo não é uma coisa que acontece a toda hora. Quando tossimos muito depois de beber algo que parece ter descido pelo “lado errado” ou quando comemos algo rápido demais, temos o costume de dizer que nos engasgamos, sendo que na verdade não foi um engasgo.
Como saber se o bebê está engasgando?
O bebê não tem reação nenhuma quando está engasgando, não cospe, não chora, não tosse e começa a ficar roxo.
Saiba que pode acontecer com leite materno, papinha (principalmente as liquidificadas), mamadeiras e alimentos duros.
Se você observar o seu bebê com esses aspectos mencionados, aí sim deve intervir.
Para isso existe uma manobra de desengasgo, conhecida como manobra de heimlich que deve ser feita imediatamente no bebê, confira o vídeo abaixo:
Agora que você sabe a diferença entre Gag e Engasgo, é fundamental explicar para a família essa diferença e para que as outras pessoas e o bebê não se apavorarem sem necessidade.
Saiba: há maiores chances do bebê engasgar começando a introdução alimentar antes dos 6 meses, antes dos sinais de prontidão ou quando o bebê é alimentado em cadeiras de balanço inclinada e com papas liquidificadas.
Aqui vão alguns cuidados para se evitar um engasgo:
- Evite oferecer alimentos pequenos e duros como amendoins, castanhas e nozes;
- A pipoca também não é recomendada antes dos 2 anos, por causa da casquinha;
- Não ofereça alimentos duros como: maçã, pepino e cenoura crus. Esses devem ser cozidos até ficarem macios, sempre, até que o bebê tenha mais habilidade em lidar com esses alimentos crus (por volta de 1 ano);
- Alimentos arredondados, pequenos e macios como uva, ovo de codorna e tomate cereja, devem ser oferecidos cortados ao meio na longitudinal e após os 9 meses, ou próximo desse tempo; é quando o bebê tem mais experiências alimentares e habilidades de coordenação motora para pegar pequenos alimentos com as pontas dos dedos. Essa coordenação motora é chamada de movimento de pinça;
- Nunca coloque um alimento em pedaço grande na boca do bebê, ele que pega e manipula sozinho e leva a boca se assim quiser;
- Não apresse o seu bebê;
- Não fique tentando pescar os alimentos dentro da boca do bebê, se houver um engasgo, faça a manobra;
- Nunca deixe o seu bebê sozinho se alimentando;
- Se o bebê começar a tossir, aguarde alguns segundos para ele se recuperar.
Para prevenir o engasgo, é necessário informações vindas de fontes seguras, como as que você encontra aqui.
Como você percebeu, até com o leite o bebê pode engasgar e existem muitos casos. Por isso, todos os adultos deveriam saber sobre a manobra de desengasgo. Sendo um bebê ou um adulto, você pode salvar uma vida.
Passo a passo para iniciar a alimentação do seu bebê de forma segura garantindo o desenvolvimento
Agora que você já sabe que É NECESSÁRIO esperar os 6 meses do bebê, os sinais de prontidão e que existe os degraus da introdução alimentar, você está pronta para iniciar uma introdução alimentar que respeita o bebê proporcionando o seu melhor desenvolvimento.
Passo #1: Trazer o bebê à mesa (despertando o interesse)
Antes de iniciar a introdução dos alimentos traga o bebê com você na hora das refeições. Isso mesmo, com você no colo. Ele verá você e outros integrantes da família fazendo uma das coisas mais naturais e rotineiras da vida, o ato de comer.
Comece fazendo isso 1 semana antes de ofertar o primeiro alimento.
Esta é a etapa que permite descobrir se o seu bebê já tem interesse nos alimentos (um dos sinais de prontidão lembra?). Se ele já leva brinquedos ou outros objetos à boca, provavelmente vai querer levar os alimentos. Se com o seu filho ainda não aconteceu, estimule ele a levar os brinquedos apropriados e mordedores de diferentes texturas, será importante para a mastigação que se inicia com a alimentação complementar. Com seu bebê no colo ou no cadeirão ele vai observar a família se alimentando e com o passar dos dias você notará que os interesses do seu filho em pegar os alimentos pode aumentar.
Pode acontecer do seu bebê não apresentar interesse tão logo, nesse caso, continue por mais dias até perceber os primeiros sinais de curiosidade, essa antecipação levando-o junto com você à mesa será para despertar essa vontade.
Assim, ficará mais fácil e seu bebê estará pronto para o dia que iniciarem, pois o bebê estará mais familiarizado com o ambiente de refeição e perceberá que vocês adultos gostam desse momento e que é prazeroso.
Os bebês associam tudo que acontece ao seu redor, por isso esses momentos precisam ser de calma e tranquilidade. A hora do passeio, do banho, de dormir e do comer são momentos em que o ambiente não pode ser conflituoso ou tenso, o comportamento dos adultos vai nortear o sentimento e comportamento do bebê.
A introdução alimentar precisa estar em sintonia dentro de 3 aspectos:
- conexão e respeito mútuo entre cuidador e bebê na hora da refeição,
- ambiente tranquilo e sem distrações,
- conhecer as etapas da introdução alimentar e ser exemplo,
- confiança, segurança e paciência para proporcionar oportunidades para o melhor aprendizado de alimentação.
Passo #2: Apresentar os primeiros alimentos
Agora que você identificou que o seu bebê está pronto para iniciar; não está tombando para os lados, não fica colocando a língua pra fora, tem interesse em levar objetos na boca e tem interesse nos alimentos, tem controle de cabeça e pescoço e tem 6 meses; vamos apresentar/oferecer os primeiros alimentos.
Para esse início ( o dia que for começar) você pode colocar um alimento macio cortado em um tamanho que o bebê consiga segurar com as mãozinhas (pedaço grande e comprido) e apenas observar, pois no começo vamos apresentar os alimentos. A preocupação não deve ser se o bebê comeu.
Nesse momento o bebê poderá interagir ou não, pegar, amassar, levar na testa ou no cabelo, rsrs e talvez levar até a boca, podendo cuspir ou engolir, isso ele decidirá.
Esses alimentos no primeiro dia vão compor lanche da manhã: uma banana, um mamão ou uma tampa de laranja.
No Almoço, pode ser: Um brócolis + um omelete simples + uma batata baroa para o almoço. São apenas exemplos para o primeiro dia.
Para o segundo dia, você pode ir substituindo os alimentos pelos mesmos grupos alimentares.
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Se por qualquer motivo você optou começar com os amassados, não tem problema. O importante é ir dando oportunidades ao longo das primeiras semanas da introdução alimentar ao seu bebê e ir adquirindo confiança para que ele também participe da refeição. E participar, é poder pegar a colher se seu filho quiser ou mesmo poder colocar a mãozinha na comida enquanto você estiver o alimentando.
Faz bagunça!? Faz! Mas esse contato é essencial. Não demore para deixar a disposição dele alguns alimentos em pedaços grandes para que ele consiga agarrar um alimento e explorar como quiser. Aliás o bebê que tem oportunidades de comer em pedaços, com o passar do tempo faz menos bagunça quando for criançinha pois aprende mais fácil e mais rápido a usar talheres e consequentemente derruba menos comida.
Aqui vou abordar com você uma introdução alimentar baseada em respeito mútuo, que valoriza os sentimentos e vontades, que trabalha o desenvolvimento através da alimentação, e que acredita que o bebê pode guiar ou no mínimo ter sua participação ativa durante as refeições.
O bebê precisa ter oportunidades de tocar nos alimentos, de conhecer, visualizar formatos, cores, cheiros, texturas e sabores diferentes. É assim, através da curiosidade e da oportunidade do seu filho poder pegar e poder decidir o que vai fazer com o alimento, que vai aproximar o seu bebê da comida da melhor maneira possível e ajudar ele a criar uma boa relação com os alimentos.
Agora grave isso! Vocês vão fazer isso juntos e você conseguirá e poderá comer junto com o seu bebê (no mesmo momento). Para os bebês se interessarem na comida é necessário ver os adultos comendo também. Diria que esse é o ouro da introdução alimentar!
Uma coisa eu queria desmistificar aqui: NINGUÉM FAZ NINGUÉM COMER.
A gente ajuda o bebê a se alimentar. Agora sim!
Então se o seu bebê não aceitar comer na primeira semana da introdução alimentar, não fique frustrada, chateada (eu sei é difícil segurar as emoções), mas pense que assim como o bebê aprende a andar e pode demorar, caindo, dando alguns passos e caindo outra vez, até que ele realmente ande, com a alimentação não é diferente. Também é um aprendizado que precisa de tempo para ser aperfeiçoado.
Os alimentos tem outra textura, outros sabores, totalmente diferente do leite, então é muita novidade para o seu filho, veja o quanto isso é algo muito pessoal e que depende muito de compreensão, empatia e uma relação de respeito mútuo para dar certo.
Por experiência própria, posso dizer que a maioria das pessoas acha que fazem seus filhos comerem. Mas querer fazer alguém comer não faz nenhum sentido. Nós comemos porque queremos, porque temos mais fome ou menos fome, porque gostamos, porque sentimos prazer em comer, porque gostamos de comer em companhia de pessoas queridas. As vezes comemos mais quando estamos felizes.
Tirar esse pensamento da cabeça é o primeiro passo. Nós apenas, os auxiliamos com o necessário. Como por exemplo: oferecer um feijão amassadinho na colher, pois ele não é capaz ainda de conseguir pegar alimentos pequenos e nem segurar a colher ou o garfo.
Mas logo será capaz, se dadas oportunidades de explorar e aprimorar habilidades. Se assim, não fizer, você poderá perder essa janela de oportunidades, do seu filho aprender e se desenvolver no mundo da alimentação.
O bebê precisa muito desse contato para formar uma relação próxima e positiva com a comida e para formação de um paladar variado. Isso o ajudará a ter bons hábitos alimentares não só para agora, mas por toda sua vida!
Acredito eu, que seu objetivo não é ter que ficar correndo atrás do seu filho com um prato de comida na mão para que ele coma.
Acredito eu, que você quer ter segurança e tranquilidade em ver seu bebê crescendo, se desenvolvendo em seu maior potencial, se tornando um comedor competente. Tendo clareza que ele está se alimentando bem, conforme suas necessidades nutricionais, se tornando uma criança feliz e com saúde. E não mais importante, tendo prazer em se alimentar.
Para que essas coisas acontecerem é necessário confiar no processo e dar as oportunidades do bebê participar da refeição desde o início. Você verá os frutos agora e também mais adiante.
CORTES DOS ALIMENTOS
Os cortes são simples, sem neura (tem material extra sobre isso aqui.).
Sobre a consistência dos alimentos, tanto para os amassados, como para os pedaços, a consistência é a mesma, ambos devem passar o garfo facilmente pelo alimento, mas falarei mais detalhadamente sobre essas consistências no passo #5 Evolução das texturas.
Material extra: Cortes ideais para o seu bebê.
E lembre-se:
- Confiar que seu filho é capaz e que vocês formarão uma bela dupla;
- Confiar que a introdução alimentar é a APRESENTAÇÃO DOS ALIMENTOS;
- Confiar que essa etapa de exploração dos alimentos é necessária para o desenvolvimento;
- Confiar que tudo acontece no tempo certo, de cada um. Nunca compare seu filho com o de alguém.
Passo #3: Incluir novos grupos alimentares
Agora no terceiro dia já podemos apresentar vários grupos alimentares e 3 refeições ao dia.
Podendo ser café da manhã, almoço e café da tarde.
No café da manhã e no café da tarde será sempre um tipo de fruta até os 9 meses do bebê.
Atenção! Não deve ser oferecido a mesma fruta vários dias. Desde o início pode variar as frutas ao longo dos dias.
No almoço já podemos oferecer 5 grupos alimentares para que essa refeição fique bem colorida e nutricionalmente equilibrada para garantir o desenvolvimento e crescimento.
Esqueça daquela comida sem cor e com cara de comida de bebê. Para garantir o crescimento o prato do bebê não deve ser diferente do adulto que come saudável, apenas faremos alguns pequenos ajustes que falarei mais no próximo passo.
Dessa forma, a composição do prato ideal deverá sempre que possível conter 1 alimento de cada um dos 5 grupos alimentares.
Conheça cada grupo alimentar:
Carboidratos – são os cereais ou tubérculos: batata, batata doce, aipim, inhame, massas, arroz, polenta e milho.
Leguminosas – grupo dos feijões: feijão de todas as variedades, grão de bico, lentilha e ervilha.
Carnes e ovos – são as fontes de proteína animal: carne de frango, boi, porco, peixe ou ovos.
Legumes – brócolis, beterraba, abóbora, abobrinha, couve-flor, chuchu, pimentão, entre outros.
Verduras – alface, agrião, chicória, acelga, couve-manteiga, entre outros.
As boas fontes de gordura são fundamentais na composição do prato. Utilize um fio de azeite de oliva extra virgem no final da preparação.
A capacidade estomacal do bebê de 6 meses é do tamanho de 1 ovo, por isso não coloque grandes quantidades de comida.
As quantidades e o que o bebê vai comer dentre o que foi oferecido no prato é decisão dele.
Lembra dos papéis de cada um na refeição?
O leite materno ou leite de fórmula continua sendo oferecido conforme o bebê já recebia antes da introdução alimentar, pois no começo ele ainda não entende que a comida também enche a barriga. Além disso, como já conversamos o leite ainda é o principal alimento até os 12 meses. Aos poucos, com essa percepção e boa relação com os alimentos e passará a comer mais e mamar menos, mas isso acontece muito gradativamente.
Passo #4: Como preparar os alimentos e oferecer diferentes formas de preparo
Quando cozinhamos em casa, não é apenas para matar a fome ou suprir as necessidades diárias. Cozinhar em casa ganha um significado maior para toda a família, que são as lembranças que guardamos dos nossos antepassados, momentos de compartilhamentos e interação com quem amamos, aproximamos mais as crianças da cozinha e abrimos um espaço maior para as atividades culinárias. A comida de verdade é para toda a família, não só para o bebê. Preparar alimentos usando principalmente alimentos in natura e minimamente processados resgata valores da boa e antiga culinária. Agrega prazer no ato de cozinhar melhorando a alimentação e saúde de todos da casa e constrói memória afetivas para a vida das futuras gerações.
Se você não é uma ótima cozinheira, acalme-se. Com a prática você ficará cada vez melhor. É importante ter ajuda de alguém sempre que possível, cozinhar não é só papel da mulher.
Se na sua casa vocês já tem o costume de comer comida de verdade nas principais refeições, preparar a comida do bebê não terá grandes segredos. Você verá como é simples. Aqui quero te ajudar a descomplicar, utilizando a mesma comida para a família e para o bebê. Os grupos alimentares devem apenas ser substituídos sempre que possível e o modo de preparo pode ser variado através de receitas da internet ou receita de familiares. É importante variar os alimentos e como preparar para que as refeições não fiquem muito monótonas atrapalhando a aceitação da comida pelo bebê, sempre trazendo mais prazer para todos.
Citarei alguns exemplos a seguir para cada grupo alimentar:
LEGUMES:
- Abóbora cabotiá em fatias no forno com alho poró, ervas finas e azeite;
- Repolho ralado e refogado com cebola, alho e orégano;
- Brócolis ao bafo com alho;
- Abobrinha no vapor com alho e açafrão
CARBOIDRATOS:
- Batata doce no forno com óleo de coco e páprica doce;
- Batata inglesa cozida com molho de tomate caseiro;
- Macarrão à carbonara (com ovos);
- Arroz com ervilhas e cenoura ralada
CARNES E OVOS:
- Carne de panela com cebola, alho, tomates, louro e cebolinha;
- Coxinhas assadas com tempero de alho, cominho, tomilho e ervas finas;
- Omelete simples; Ovo cozido; Ovo grelhado
- Peixe grelhado com pimentão, cebola, alho, limão e chimichurri;
- Carne de porco na panela com alho poró, alecrim, limão e mandioca
VERDURAS:
- Couve picadinha refogadinha no azeite;
- Almeirão picadinho temperado com limão e azeite, colocar no meio do arroz ou do feijão para oferecer;
- Alface e cebola picadinha no omelete;
LEGUMINOSAS:
- Feijão na pressão com caldo;
- Tutu de feijão simples;
- Lentilha na pressão com caldo ou como salada;
- Grão de bico bem cozido e temperado com salsinha e azeite;
- Ervilha cozida e oferecida sem tempero.
FRUTAS:
- Frutas in natura, ou cozidas, assadas com canela, oferecidas geladas ou em temperatura ambiente.
Todos esses mesmos alimentos você pode mudar o jeito de fazer, refogado, grelhado, assado, cozido, no vapor, e variando nos temperos também.
O sal não deve ser adicionado à comida do bebê. Visto que pode ocorrer uma sobrecarga renal. O Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos, libera uma quantidade mínima a ser utilizada na comida, sem citar de quantidades, porém ao analisar os dados estatísticos da utilização de sal na comida do brasileiro, sabemos que ela chega a ser 3 vezes maior que o recomendado. Portanto minha indicação é que quanto mais esperar para próximo dos 12 meses, melhor será. A intenção é que a família vá diminuindo o sal para que quando o bebê passar a comer comida com sal, o paladar dos adultos esteja mais adequado. Enquanto isso, a comida da família e do bebê deve ser preparada sem sal e os adultos adicionam no prato. Uma preparação ou outra que é mais complicado separar sem sal, como arroz, uma carne de panela ou uma carne assada, não terá problemas, mas sempre usando com moderação, pouco sal.
Passo 5: Evolução de texturas
A progressão das texturas serve todos os alimento dos grupos alimentares: legumes, carnes e ovos, carboidratos, leguminosas, frutas e verduras.
DOS 6 AOS 7 MESES:
O ponto ideal de cozimento é quando você consegue esmagar o alimento com seus dedos ou com a língua no céu da boca. As frutas macias já terão a textura correta. No caso das frutas mais duras, como a maçã e a pêra, você precisa cozinhá-las no vapor ou assada, mas muito cuidado para não ficarem moles demais.
Essa textura é a mesma tanto para os alimentos que serão oferecidos pela colher (amassados com o garfo), quanto para os oferecidos em pedaços grandes para o bebê pegar com toda a mão e comer o que fica para fora (fazendo preensão da palma✊), que é o movimento que ele consegue fazer com 6 meses.
Você consegue perceber que o fato de ter o mesmo ponto de cozimento para ambas as formas de apresentação dos alimentos (amassados ou em pedaços grandes), não faz sentido ter medo dos alimentos em pedaços. Estudos demonstram que quando o bebê está em total controle da situação e pronto para se alimentar não há mais engasgos do que quando oferecido pela colher amassadinho.
8-9 MESES:
Aos 8 meses os alimentos oferecidos pela colher já devem conter pedacinhos macios. Nessa fase os bebês já começam a adquirir uma outra habilidade com as mãos, que é o movimento de pinça (pegar pequenos alimentos ou objetos com o dedo indicador e o polegar👌) e simultaneamente a mastigação também estará mais elaborada. Por isso já é mais seguro oferecer alimentos macios em cubinhos, como a carne, os feijões inteiros ,lentilha, grão de bico e milho por exemplo.
10 MESES:
Aos 10 meses a textura da comida já deve ser igual a da família.
Seguir essa evolução de textura ao longo dos primeiros meses da introdução alimentar irá estimular e proporcionar um desenvolvimento da fala, mastigatório e oro facial mais eficiente, visto que a mastigação é um ato aprendido, proporcionando força de mordida quando estimulada por alimentos que exijam movimentos de rotação de mandíbula.
A papa não ajuda a praticar esse exercício mastigatório, por isso indico a introdução de alimentos inteiros desde o início.
As chances de diminuir drasticamente problemas com a aceitação de novos alimentos a curto e longo prazo são visíveis na prática e estudos já comprovam que a textura tem um poder muito forte em relação ao que a criança vai selecionar comer futuramente. Como por exemplo ter dificuldade em mastigar uma carne e preferências por alimentos mais moles.
Isso quer dizer que texturas não evoluídas no tempo ideal, pode deixar seu filho mais seletivo em relação a comer alimentos mais texturizados futuramente, normalmente aos 2 e 7 anos de idade.
Passo 6: Servir a mesma comida da família
Poder servir a mesma comida da família irá facilitar muito o dia-a-dia na cozinha e na aceitação dos alimentos pelo bebê, já que todos estarão consumindo os mesmos alimentos. Os bebês, pouco tempo após o início da introdução alimentar passam a perceber se sua comida é diferente ou não dos adultos. Se a comida de vocês não é muito saudável, ou nada saudável, esse é um bom momento de repensar na alimentação e criar novos hábitos para inserir seu filho numa alimentação familiar equilibrada. Se esse for o seu caso e precisar de ajuda para ajustar toda a alimentação, sugiro que procure um nutricionista.
É claro que, temos uma infinidade de culturas e costumes alimentares no nosso país, mas a alimentação saudável, de alimentos da terra, deve estar sempre na mesa, principalmente quando se tem um bebê em casa.
Utilizando esse método de alimentação mista você verá como é fácil de adaptar a alimentação da família com a do bebê.
Como executar isso na prática?
Se organizar para fazer as compras é o primeiro passo que lhe renderá tempo para não fazer muitas idas ao mercado. A compra quinzenal ou mensal são dos alimentos que duram mais, como:arroz, feijão, fubá, macarrão, carnes e peixes congelados. A compra semanal fica para os ovos, frutas, hortaliças e legumes. Sempre que possível compre alimentos orgânicos e de produtores da sua região próxima, como de feirantes por exemplo, os produtos costumam ser mais frescos, mais saborosos e duram mais tempo na geladeira.
Não seria uma maravilha, não ter que se preocupar em ter que fazer 2 tipos de refeições todos os dias. A alimentação do bebê deve ser rica e variada como já comentei antes com você. Aqui vamos apenas fazer mínimas adaptações para facilitar a maternidade e trazer momentos de interação entre vocês da família e o bebê nos momentos de refeição.
Na hora de preparar a comida de vocês, algumas preparações você pode adaptar sem usar sal, podendo salgar apenas o seu prato.
Veja o que diz, no Guia Alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos; versão atualizada (2019) sobre o uso de sal:
“As famílias brasileiras consomem quase três vezes mais sódio do que o limite recomendado para a manutenção da saúde. O sódio está presente no sal de cozinha e também é adicionado a praticamente todos os alimentos processados e ultraprocessados, muitas vezes em grande quantidade, mesmo naqueles de sabor doce. O consumo de sódio em excesso aumenta a chance de desenvolvimento de pressão alta e está relacionado ao desenvolvimento de câncer de estômago. Por isso, o consumo de sal em casa requer atenção. Evite alimentos ultraprocessados e diminua o uso de sal nas preparações culinárias. Para uma família de quatro pessoas que prepara e faz as refeições em casa diariamente, um quilo (1 kg) de sal deve durar, pelo menos, 2 meses e meio. Temperos ultraprocessados vendidos em cubos, sachê ou líquido também possuem sódio em excesso e não devem ser utilizados na alimentação da família, principalmente para crianças.”
Então sempre que possível as refeições principais como almoço e jantar sendo à base de alimentos naturais e minimamente processados, pode ser oferecida ao bebê modificando apenas sua consistência quando necessário e utilizando o mínimo de sal em preparações mais complicadas de colocar o sal na comida no prato do adulto, como: arroz, feijão e carnes que vão na panela de pressão ou assadas.
Então, legumes, verduras, raízes e tubérculos você pode usar temperos frescos e naturais para temperar, carnes que serão grelhadas também não precisa adicionar sal na peça que será oferecida ao bebê, macarrão não precisaria colocar também, é só separar o macarrão com molho para o bebê, e ainda quente você pode adicionar o sal na panela e mexer.
Esses são alguns exemplos de como adaptar algumas preparações sem nada de sal para o bebê conhecer os alimentos in natura e os sabores reais de cada alimento, sem você ter que preparar uma comida diferente para o seu bebê.
E a Luna hoje?
A seguir tem um vídeo da Luna se alimentando nos dias de hoje. Na maioria dos dias ela está bem disposta pra se alimentar, outros nem tanto, ela costuma emitir sons enquanto se alimenta desde sempre demonstrando prazer mesmo em comer e mantém uma ótima relação com a comida.
Ela aprendeu pouco a pouco sobre um jeito prazeroso e divertido de comer.
A criança aprende brincando. É assim que deveríamos encarar a introdução alimentar que vai até os 2 anos.
E você, o que espera com a introdução alimentar do seu bebê? Quais resultados você quer proporcionar à ele?
Ficou com alguma dúvida? Gostou do texto? Quer saber mais? Escreva seu comentário aqui embaixo, vou adorar saber!
Tássia Martins